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26 fevereiro 2024

Na minha cabeça mando eu

fevereiro 26, 2024 1
Na minha cabeça mando eu

 


No outro dia, um amigo perguntou-me  se eu já e tinha questionado sobre “o que pensariam o meu pai  e o meu tio de eu ter entrado nas lides políticas”. Foi mesmo assim que ele disse, mas fiquei com a sensação de que ele queria levar a conversa para outro lado. Sim, ele queria saber se eu ponderaria se o meu pai e o meu tio ficariam tristes se soubessem que não voto no partido que sempre foi o deles.

O meu pai nunca teve qualquer atividade política, mas o meu tio (e querido padrinho de batismo) Artur Francisco teve- foi por três vezes Presidente da Junta de Freguesia de Maceira e vereador da Câmara de Leiria, sempre pelo PSD.

No entanto, e quem me conhece sabe-o bem, na minha cabeça mando eu.

Sempre me lembro de ser assim, pelo na venta, com a mania de que já sabia tudo aos dezasseis anos e  depois, aos quarenta, a começar a pensar que ainda sabia tão pouco.

E sabia. E o que sei ainda é ínfimo.

Mas li. E ouvi. Informei-me. E tenho  encontrado um caminho. O meu.

E continuo a ler, a informar-me, a estar atenta, porque a estrada nunca está percorrida para quem quiser ir mais além. Sei, contudo, que que defendo uma sociedade mais igualitária, mais justa, que  elimine as disparidades e discriminações de género, que promova a igualdade de oportunidades,  independentemente do estatuto socioeconómico, que se comprometa a defender todas as formas de discriminação.

Ainda sei pouco, mas sei o essencial- o meu pai e o meu tio  estão contentes a olhar para esta mulher em que me transformei.

 Sou esta hoje: Sofia, cinquenta e três anos, mulher cheia de defeitos, atenta aos outros, que não precisa de ter as ideias do pai e do tio na cabeça para os ter no seu coração.

24 fevereiro 2024

Somos velhos e somos Futuro

fevereiro 24, 2024 0
Somos velhos e somos Futuro

 


Voltei a esta foto esta semana. 

É uma das minha fotos preferidas- o meu pai, com um olhar triste, mas não resignado, rodeado do amor de dois dos seus netos.

O meu pai teve o primeiro AVC aos sessenta e sete anos. Com fisioterapia e esforço, recuperou mobilidade e autonomia, mas durante muitos anos ficou a coxear. Tenho a certeza que ele, vaidoso, detestava o arrastar da sua perna, mas assumia que agora "era coxo" e nunca deixou de ir ao café, de ir aos programas do Viver Ativo, de sair de casa...

E foi assim até ao fim.

Com o avançar do tempo e com a mobilidade ganha a ser perdida de novo, o meu pai usou bengala, andarilho e cadeira de rodas, mas nunca se escondeu em casa e eu e a minha irmã, sempre passámos aos nossos filhos normalidade em cada situação que o avô viveu.

Nem sempre foram fáceis os olhares de pena e chegámos a sentir que ele deveria ficar mais por casa. Tenho a certeza que ele sentiu isso tudo, mesmo se nunca nos tenha dito nada.

Voltei então a esta foto, esta semana, enquanto conversava com uma amiga sobre os olhares que muitas vezes se lançam aos velhos, aos que fogem ao dito normal, aos que apresentam incapacidades que não queremos ver por nos lembrarem, talvez, para onde poderemos ir. 

E o que dizer também dos que, a todo custo, escondem dos mais novos tudo o que receiam provocar-lhes sofrimento? Se me permitem, o caminho é outro- adequar linguagem, mas assumir verdade sempre. 

E não nos esqueçamos..

Vivemos mais anos e somos um país de velhos.

 E precisamos de acreditar que somos Futuro e que sabedoria e  aceitação darão origem a  um legado eterno.



Celebrar 25 anos-foi bonita a festa

fevereiro 24, 2024 0
Celebrar 25 anos-foi bonita a festa




No dia 16 de setembro de 2023, agradecemos e renovamos os nossos votos na Igreja e não consigo ter um adjetivo que defina o dia.

Foi um um dia em que nos rodeamos de quem amamos muito e em que tive a certeza que o meu pai esteve presente sem estar.

Muitos mais amigos cabem no nosso coração, mas não caberiam no espaço escolhido e não nos queríamos dispersar. Queríamos uma festa com alegria, abraços, família e tempo para conversas. Tivemos tudo.

Obrigada aos nossos filhos por tanto amor.

Para a festa queríamos simplicidade e rodeamo- nos de pessoas próximas, que são cheias de talento. E assim, deixo a dica a quem está a pensar organizar uma festa ( todas do concelho de Leiria).

Obrigada, @brunafilipesilva por (en) cantares o dia.

Obrigada,
@djmike_ramos por nos pores a dançar.

Obrigada, @lunobre7 pelo bolo lindo.

Obrigada, @samantasemh pelas fotos maravilhosas.

Ah...e obrigada @mfilomenaferreira500 ,, @joanadeoliveira_hair ,e @makeupby_soniap por me alindarem.

Nota: Pensei bastante antes de partilhar, mas sempre sinto que há muita gente aqui que sempre torceu por nós e que assim se junta à festa.Muito obrigada.

Ao longo de 25 anos os dias não foram sempre cor de rosa como o meu vestido. Houve zangas, amuos, uma ou outra dúvida. Contudo, persistiu sempre a certeza quando eu me perguntei quem queria ao meu lado.

Tive sorte. Tivemos sorte. Ou esforçamo-nos para a encontrar, talvez...

Passou quase um mês de um dia bonito e volto aqui para responder a três perguntas que me têm feito muitas vezes.


✔️Cerimónia religiosa- para mim, não faria sentido festejarmos sem agradecer a Deus o tanto que temos recebido. Tivemos ainda a sorte de ter o Padre Vítor Mira como amigo, que o Luís conheceu em Angola no @grupomissionarioondjoyetu,e do hotel @sdivinefatimahotel ter uma capela dentro do espaço.

✔️Convidados- foi o mais difícil. Definimos um máximo de convidados (orçamento assim o exigia😀) e privilegiamos família e/ou amigos que tinham ligação forte com os dois. O Luís abdicou de muito quando deixou Viseu para viver em Leiria e quis muito que a maioria dos convidados, que não família, fossem amigos viseenses ou dos tempos dele de Coimbra.
Foi maravilhoso estarmos com quem não estamos sempre (e foi ótimo termos ficado todos no hotel para festejarmos com tempo).

✔️Vestido- vi um ou dois que gostei, mas os preços eram proibitivos. Sabia que queria um vestido elegante, mas confortável e que desse para eu dançar. Encontrei- o online, no site da @koccaofficial, uma marca italiana de que gosto, em saldo. Depois, a costureira fez os ajustes necessários. Os sapatos @manoloblahnik foram os da ocasiões especiais e quem me conheceu pelo blogue, sabe a história (ganhei-os num concurso🙂).

Como disse a Mena, minha vizinha de infância, tudo simples, mas elegante e com emoção. Acho que resumiu o que pretendíamos do dia (e talvez um pouco do que pretendo da vida, afinal)

Casa Feliz

fevereiro 24, 2024 0
Casa Feliz



Em outubro, a Junta de Freguesia De Maceira recebeu um telefonema da produção do programa Casa Feliz, da SIC, a perguntar pelo Sr. António.

Deram- lhes o meu número de telemóvel, combinou- se a vinda de uma equipa até à aldeia, os filhos e netos, na Alemanha, organizaram- se para surpreender o pai, mas a Raquel partiu e a ida à Sic foi adiada.
Iremos amanhã. O António diz que lhe dou segurança e eu sorrio- lhe com os olhos húmidos, a querer acreditar que o meu pai nos está a ver.
O António e o seu irmão Manuel Francisco foram grande amigos do meu pai e, sempre que falo com eles, é como se matasse saudades do meu pai. Talvez percebam...
Estou- me a dispersar. O que eu quero aqui dizer, para quem acompanhou a história desde o Postal do Dia de Luís Osório e a ida ao programa A nossa Tarde, é que amanhã, dia 15, eu e o António estaremos em direto, por volta das 11 da manhã, no programa Casa Feliz.
O António, que será sempre da Raquel, quer contar o que ainda não contou e eu irei quase como uma assistente.
- O que achas do blazer?
- Gosto muito.
- Ó filha, a gravata tem de ser a preta, por causa da minha Raquel.
- Eu concordo.
- Apontas- me neste bloco a quem tenho de mandar beijinhos?
- Claro.
Combinamos hora de saída amanhã e ele mostrou- me, orgulhoso, a moldura que lhe ofereci no Natal.Lá terei eu de comprar outra.
Nota: O António foi emigrante na Alemanha durante anos. Nestes dias, em que se ouvem discursos cheios de ódio contra os migrantes, não nos esqueçamos de quem fomos e de quem somos.

A Escola é livre

fevereiro 24, 2024 0
A Escola é livre
Quando ouço alguém afirmar que nas escolas “antigamente é que era" percorre-me sempre um arrepio.
E se antes sorria e não entrava em discussões, agora dificilmente consigo não dizer o que penso.
Como é possível?
Quando andei na escola primária, os alunos com dificuldades saíam da sala, iam fazer recados às professoras ou eram esquecidos.
Quando andei na escola primária, havia régua e bofetadas para quem errasse. Havia medo e não respeito. E, por favor, não me digam que assim é que se aprende. Tenho trinta anos de ensino e dá- me vómitos imaginar- me a bater a um aluno meu.
Quando eu acabei a escola primária, em1980, a maioria das minhas colegas de escola foi aprender costura e não foi muito além do sexto ano.
Quando fui para o Liceu, na década de 80,os alunos que apanhavam o autocarro não se sentavam em certos bancos do Pátio e ser filho de senhor doutor era valorizado como já não vejo ser (quero muito acreditar que só uma minoria de professores o continua a fazer).
É muito melhor a escola de hoje, um espaço aberto à comunidade, que integra, que olha para cada aluno e que o respeita.
Posso escrever mil coisas mais que mostram como é indiscutivelmente melhor a Escola de hoje. Hoje, 13 de janeiro de 2024, em que acabo de ver um líder de um partido a dizer que mal chegue ao governo promete cortar todos os subsídios às associações que promovam "ideologias de género e a igualdade de género" e outras coisas que me deixam enojada.
Penso nos tantos alunos que tive, nas dúvidas que os assaltam, na especificidade de cada um e os meus olhos inundam- se. Como é que será a Escola se esse partido chegar ao poder?
Preciso de acreditar que não chegará.
A Escola de hoje é ainda imperfeita, mas é livre. E não podemos mesmo voltar atrás.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, franja e a estudar
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Em 2023 escrevi a letra da música para a minha terra

fevereiro 24, 2024 0
Em 2023 escrevi a letra da música para a minha terra


 

Mesmo que, por vezes, eu possa não saber bem o caminho a seguir, procuro não esquecer de onde vim e quem em mim vive.

Vivem mim o meu avô Manuel, resineiro, a minha avó Perpétua, parteira e cozinheira, o meu avô Augusto que tocava acordeão, a avó Maria que cedeu uma casinha para ser a primeira escola primária da aldeia.
Vivem também os meus pais e tantas histórias de pessoas da minha terra. E vive o sorriso de tantos meninos de quem fui professora ao longo de trinta anos, dos quais vinte e cinco na Maceira.
Para agradecer tanto o que tenho recebido, construí com estas duas mulheres maravilhosas e cheias de talento (a Bruna Silva tem a idade do meu filho mais velho e a Inês Bernardo foi minha aluna), algo bonito que apresentámos a 16 de junho de 2023 na sessão solene das Festas da Vila de Maceira.

(Agradeço à Junta de Freguesia de Maceira o desafio e a confiança que em nós depositaram)

Cinquenta e três- e a gostar de envelhecer

fevereiro 24, 2024 0
Cinquenta e três- e a gostar de envelhecer

Fiz 53 anos no dia 1 de junho de 2023 e escrevi assim:

Gosto neste dia que me abracem, que me telefonem, que me mandem uma mensagem. Tive tudo isso.
Gosto de fazer anos e estou a gostar de envelhecer.

E

Quero muito continuar a sentir- me feliz com o que não se compra.

Mergulhar na água fria sem um queixume, estar confortável num fato de banho que me permite correr à vontade pela praia, sentir-me contente por ver a minha praia de infância mais bonita e cheia de vozes que falam tantas línguas diferentes, ficar de olhos fechados a sentir o sol queimar a pele um bocadinho enquanto ouço o mar, sentir o vento despentear- me e adorar, ficar com o chapéu de quem me ama e sentir que tenho a idade que tenho e que não quereria ter outra.
E, mesmo não ligando muito a presentes, partilho convosco, retribuindo o carinho que me deixaram aqui hoje, o presente dos meus rapazes- um capacete para me manter segura. Tão bonita a preocupação deles!
E não preciso de mais.
Muito obrigada. Livrem- se de não estarem aqui todos no próximo ano!


08 maio 2023

AO ESPELHO (com a Ti Emília)

maio 08, 2023 4
AO ESPELHO (com a Ti Emília)


 

Acabaram de me/nos tirar esta fotografia e eu acho- a tão bonita que a quis publicar.

Eu, que tenho a mania que vou de bicicleta para a escola, e a Ti Emília, quase nos 87 anos, a fazer- me sentir envergonhada.
Quem conhece a Ti Emília sabe que a bicicleta e ela são inseparáveis- faça chuva ou sol, em estradas planas ou mais íngremes, lá vai ela, leve, pele tisnada de quem trabalhou de sol a sol, sem queixumes, grata por ir a todo o lado e não estar dependente de ninguém.
E eu, que transporto a pasta num acessório bonito como via as moças em Bruxelas, olho para a caixa azul onde ela transporta as compras e coro. E digo- lhe que a admiro, confesso-lhe que a minha tem bateria e que não me canso nas subidas, que ela é extraordinária e que eu adorava também eu, um dia, ter 87 anos e pedalar como ela.
Mostrei- lhe a foto e ela disse que estávamos bonitas. Perguntei- lhe se poderia publicar e ela sorriu:
- Ai c'um carago! Agora no fim de velha. Põe lá isso, então.
E eu ponho. Para que mais gente conheça a Ti Emília e para que eu, quando tiver vontade de me queixar dos percalços com que me deparo na estrada, me lembre dela.
É maravilhosa a Ti Emília, não é?